Imunizante é o primeiro do mundo aplicado em dose única; investimento inicial é de R$ 368 milhões e primeiras 300 mil doses serão destinadas a profissionais da atenção primária
O Instituto Butantan iniciou a entrega das primeiras doses da vacina contra a dengue ao Ministério da Saúde. O primeiro lote é composto por 300 mil doses e faz parte do contrato assinado nesta sexta-feira (19), que prevê investimento inicial de R$ 368 milhões para o fornecimento do imunizante ao Sistema Único de Saúde (SUS).
A vacina, chamada Butantan-DV, é a primeira do mundo contra a dengue aplicada em dose única. O imunizante foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para pessoas de 12 a 59 anos. Estudos clínicos apontaram eficácia de quase 75% contra casos gerais da doença, mais de 91% contra quadros graves e 100% de proteção contra hospitalizações.
Segundo o Ministério da Saúde, as primeiras doses serão destinadas a profissionais da Atenção Primária à Saúde, como agentes comunitários, agentes de combate às endemias, enfermeiros, técnicos de enfermagem e médicos que atuam em Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e em visitas domiciliares. A estratégia deve começar no fim de janeiro de 2026.
Ao todo, 300 mil doses já estão embaladas para entrega imediata. Elas fazem parte de um total de 1,3 milhão de doses já produzidas. Até o fim de janeiro de 2026, mais 1 milhão de doses devem ser entregues ao Programa Nacional de Imunizações (PNI).
Registro e contrato
O registro da vacina foi publicado pela Anvisa no dia 8 de dezembro, concluindo o processo regulatório e autorizando a produção e a comercialização do imunizante, que será ofertado exclusivamente pelo SUS.
Com o acordo firmado entre o Ministério da Saúde e o Instituto Butantan, está previsto o fornecimento inicial de 3,9 milhões de doses à rede pública.
Durante a assinatura do contrato, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que a entrega da vacina representa um marco para o país.
“Hoje é um dia de grande vitória para o Brasil. A assinatura deste contrato é essencial para garantir que as vacinas cheguem ao Ministério da Saúde e sejam distribuídas em todo o país”, disse o ministro.
Padilha destacou ainda o trabalho conjunto de pesquisadores, servidores e técnicos do Instituto Butantan no desenvolvimento do imunizante.
Estratégia de vacinação
Com a chegada das doses, o Ministério da Saúde adotará uma estratégia de vacinação para avaliar o impacto da vacina na dinâmica da dengue no país. A ação começa com projetos-piloto em dois municípios: Botucatu (SP) e Maranguape (CE). Uma terceira cidade, Nova Lima (MG), também poderá integrar a iniciativa.
Nessas localidades, o público-alvo será composto por adolescentes e adultos de 15 a 59 anos. A definição do público prioritário foi feita após reunião técnica com especialistas, conforme recomendação da Câmara Técnica de Assessoramento de Imunização (CTAI).
Por ser aplicada em dose única, a vacina facilita a adesão e amplia a proteção em menos tempo. O imunizante protege contra os quatro sorotipos do vírus da dengue.
O Instituto Butantan informou ainda que estuda a ampliação da faixa etária, incluindo idosos acima de 60 anos e crianças de 2 a 11 anos.
Parceria internacional e ampliação da produção
A vacinação da população em geral dependerá do aumento da produção de doses, que será viabilizado por uma parceria estratégica entre Brasil e China. O acordo prevê a transferência da tecnologia desenvolvida pelo Instituto Butantan para a empresa chinesa WuXi Vaccines, o que pode ampliar a capacidade de produção em até 30 vezes.
O desenvolvimento da vacina contou com investimento de R$ 130 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), além de aportes permanentes do Ministério da Saúde. Atualmente, a pasta destina mais de R$ 10 bilhões por ano ao fortalecimento de laboratórios públicos e à produção nacional de imunizantes. Com a parceria internacional, esse valor pode chegar a R$ 15 bilhões.
No âmbito do Novo PAC Saúde, estão previstos mais de R$ 1,2 bilhão para ampliar a capacidade produtiva do Instituto Butantan, incluindo a infraestrutura necessária para a fabricação da vacina contra a dengue.
Cenário da dengue no Brasil
Em 2025, o Brasil registrou redução de 75% nos casos prováveis de dengue e de 72% nos óbitos em comparação com 2024. Apesar da queda, o Ministério da Saúde reforça que o combate ao mosquito Aedes aegypti e as ações de prevenção continuam sendo fundamentais.
Em novembro, foi lançada a campanha nacional “Não dê chance para dengue, zika e chikungunya”, que segue em andamento. Entre as principais medidas de prevenção estão a eliminação de criadouros, a vedação de caixas d’água, a limpeza de calhas e o uso de telas e repelentes em áreas de transmissão.
Estudos clínicos
A Butantan-DV vem sendo desenvolvida há mais de dez anos em parceria com o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIH). O pedido de registro foi apresentado à Anvisa em dezembro de 2023.
A aprovação ocorreu após cinco anos de acompanhamento dos voluntários na fase 3 dos ensaios clínicos. Segundo o instituto, nos estudos de fase 2, a vacina demonstrou 79,6% de eficácia contra casos sintomáticos. Já na fase 3, a proteção contra dengue grave e com sinais de alarme chegou a 89%, com eficácia e segurança mantidas por até cinco anos.

