Peruano Rubén Villar chefiava organização criminosa na Amazônia e teria ordenado os assassinatos em represália ao trabalho do indigenista e do jornalista
A Justiça Federal aceitou a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) e tornou réu Rubén Dario da Silva Villar, conhecido como “Colômbia”, acusado de ser o mandante dos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, ocorridos há três anos na Terra Indígena Vale do Javari, no interior do Amazonas.
Segundo a denúncia, apresentada em junho, Villar chefiava uma organização criminosa envolvida com pesca ilegal e teria financiado a logística dos crimes, fornecendo munições, embarcações e outros materiais ao grupo responsável pelas execuções. A juíza federal Cristina Lazzari Souza considerou haver provas suficientes para abertura do processo, com base em interceptações telefônicas, depoimentos, apreensões e escutas autorizadas dentro da cela da Polícia Federal.
Em nota, a defesa de Villar afirmou que recebeu a decisão com tranquilidade e negou a existência de provas que vinculem o réu diretamente aos assassinatos. Os advogados classificaram as acusações como especulativas e reiteraram a expectativa de absolvição.
Quem é Rubén Villar, o “Colômbia”
Apesar do apelido, Villar é de nacionalidade peruana. Ele foi preso pela primeira vez em junho de 2022, por uso de documento falso, quando compareceu à sede da PF em Tabatinga. A Polícia Federal afirma que, além de chefiar uma quadrilha de pesca ilegal no Vale do Javari, Villar também está ligado ao tráfico de drogas e ao uso de documentos falsos.
De acordo com a investigação, o acusado patrocinava as atividades criminosas na região, pagava despesas de pescadores ilegais e até utilizava carregamentos de pescado para esconder cocaína. A PF também afirma que ele forneceu cartuchos usados nos assassinatos e participou da coordenação da ocultação dos corpos.
A primeira prisão de Villar durou pouco mais de quatro meses. Em outubro de 2022, ele foi solto mediante fiança e uso de tornozeleira eletrônica. Dois meses depois, voltou à prisão por descumprir medidas judiciais e atualmente está detido em presídio de segurança máxima.
O crime que chocou o mundo
Bruno Pereira e Dom Phillips desapareceram no dia 5 de junho de 2022 durante uma expedição jornalística na região do Vale do Javari. Dom escrevia o livro “How to Save the Amazon?” (“Como salvar a Amazônia?”), com foco na atuação dos povos indígenas e na preservação da floresta. Os dois foram vistos pela última vez ao passarem de barco pela comunidade de São Rafael, rumo a Atalaia do Norte. Dez dias depois, seus restos mortais foram encontrados, esquartejados, queimados e enterrados.

As investigações apontaram que o crime foi uma retaliação ao trabalho de Bruno Pereira, que fiscalizava atividades ilegais em terras indígenas e enfrentava redes de pesca e garimpo criminosas, além do tráfico de drogas.
Além de “Colômbia”, também respondem pelo crime:
- Amarildo da Costa de Oliveira, o “Pelado”, preso em flagrante no dia 8 de junho de 2022;
- Oseney da Costa de Oliveira, irmão de Amarildo, detido em 14 de junho;
- Jefferson da Silva Lima, o “Pelado da Dinha”, preso em 18 de junho.
Segundo a PF, os três participaram diretamente da emboscada e da ocultação dos corpos. Amarildo e Jefferson permanecem presos e vão a julgamento por duplo homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Oseney cumpre prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica enquanto aguarda decisão judicial.
Outros quatro homens — Eliclei Costa de Oliveira, Amarílio de Freitas Oliveira, Otávio da Costa de Oliveira e Edivaldo da Costa Oliveira — também foram denunciados por usarem um menor de idade para ocultar os corpos e responderão por esse crime.